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ALGODÃO ORGÂNICO COLORIDO PRODUÇAÕ:





PRODUÇÃO DE ALGODÃO ORGÂNICO COLORIDO:

possibilidades e limitações

1
Maria Célia Martins de Souza

2
"Não há nada de realmente muito novo sobre

algodão colorido e cultivo orgânico. (...) Quando

Colombo chegou ao Caribe, foi recebido por índios

usando roupas de algodão naturalmente

colorido, que foi, sem dúvida, cultivado de modo

orgânico" (DOCKERY, 1993).

1 - INTRODUÇÃO

1 2
O interesse recente por uma tendência

de redução do impacto ambiental na produção e

processamento de têxteis de algodão está impulsionando

o resgate de fibras naturalmente coloridas,

assim como o cultivo da fibra com técnicas da

agricultura orgânica. Estas iniciativas buscam atender

a um pequeno nicho de produtos têxteis ecológicos

e orgânicos, um mercado que vem se expandido

desde 1990. As fibras orgânicas e as coloridas

já são cultivadas em 19 países, em grande

parte produzidas por pequenos agricultores e comunidades

tradicionais.

Este estudo apresenta os principais impactos

da produção de têxteis sobre o meio ambiente,

além de caracterizar a organização da

produção de algodão orgânico e naturalmente colorido.

São apontadas algumas iniciativas e restrições

enfrentadas na produção e no processamento

dessas fibras.

2 - IMPACTOS AMBIENTAIS DA PRODUÇÃO

DE TÊXTEIS

Os problemas ambientais mais importantes

quando se considera a produção de têxteis

de algodão estão na produção agrícola, pela

grande quantidade de agrotóxicos empregados

1

Versão preliminar deste trabalho foi apresentada na Mesa
Redonda sobre Algodão Colorido, no II Congresso Brasileiro

de Algodão, realizado em Ribeirão Preto (SP), de 5 a

10 de setembro de 1999.

2

Engenheiro Agrônomo, Mestre, Pesquisador Científico do Instituto de Economia Agrícola.
no cultivo da fibra, e na etapa de acabamento,

devido às substâncias tóxicas empregadas para

alvejar e tingir produtos têxteis (Figura 1).

As primeiras preocupações com o impacto

ambiental da produção de têxteis de algodão

focalizavam a etapa de acabamento dos tecidos.

Foi a partir de 1960 que integrantes do movimento

ambientalista passaram a incentivar a produção e

o uso de roupas de algodão cru, fabricadas com

tecidos não alvejados (VAN ESCH, 1996). Duas

décadas depois, a atenção se volta para o impacto

da produção da matéria-prima, com as primeiras

iniciativas de produção orgânica de algodão. Desde

1990 surgem as primeiras peças de roupas

produzidas dentro do conceito de moda ecológica.

Os produtos têxteis ecológicos podem

ser definidos como aqueles que empregam pelo

menos uma destas iniciativas de redução de impacto

ambiental, seja na produção agrícola, seja

na etapa de acabamento, com o uso de alternativas

como o uso de corantes naturais ou de fibras

naturalmente coloridas. Entretanto, foi apenas no

final dessa década que a visão integrada dos

diferentes segmentos da indústria têxtil deu origem

aos têxteis orgânicos, que são produzidos

considerando o impacto ambiental tanto da produção

da matéria-prima como do processamento

industrial (SOUZA, 1998).

NIMON e BEGHIN (1999) identificaram

um adicional de preço de até 45% para a fibra

orgânica, em função das dificuldades encontradas

para sua produção. Este valor reflete um

prêmio de 12,5% considerando apenas o conteúdo

de fibra nos produtos têxteis elaborados com a

matéria-prima orgânica. Isso explicaria, segundo

os autores, o prêmio médio de 37% no preço final

das roupas orgânicas, pelo atributo de qualidade

ambiental embutido nas peças.

3 - O ALGODÃO ORGÂNICO E O ALGODÃO

COLORIDO

O foco principal deste estudo é a inter

Informações
Econômicas, SP, v.30, n.6, jun. 2000.

92

Souza, Maria Célia M. de

Figura 1 -

Problemas Ambientais na Produção de Têxteis de Algodão.
Fonte: SOUZA (1999).

terface criada entre a produção de algodão cultivado

com métodos da agricultura orgânica e o

algodão naturalmente colorido, uma vez que

representa uma iniciativa de fornecimento de

matéria-prima para os têxteis orgânicos.

Mas o algodão colorido não é, necessariamente,

cultivado com métodos orgânicos

(MOHAMMADIOUN; GALLAWAY; APODACA,

1994). Nesses casos, o algodão colorido representa

uma opção de produção de matéria-prima

para tecidos ecológicos. Uma outra interface possível

é a do algodão colorido e transgênico, como

o produzido no Turkmenistão, país da ex-URSS,

e as tentativas de empresas norte-americanas

para incorporar genes do índigo para obtenção

de fibras azuis (BIO-PIRATERIA, 1999). Cabe

ressaltar que as cores obtidas por meio de engenharia

genética, como no caso dos produtos

transgênicos, não são aceitos para produção

ecológica de tecidos nem pelos padrões orgânicos

para têxteis.

Essa distinção é importante e pode ser

melhor visualizada no diagrama apresentado na

figura 2.

3.1 - O Algodão Orgânico

O algodão orgânico é cultivado dentro

de um sistema que fomenta a atividade biológica,

estimula a sustentabilidade e exige um manejo

diferente do sistema de produção convencional.

Os sistemas orgânicos dependem basicamente

de insumos naturais, contribuindo para a saúde

do solo e das pessoas. O enfoque no agroecossistema

pode trazer profundas mudanças para o

Figura 2 -

Interfaces entre Algodão Orgânico e Colorido.
Fonte: Elaborada a partir de MOHAMMADIOUN; GALLAWAY;

APODACA (1994) e BIO-PIRATERIA (1999).

produtor, que pode necessitar de suporte técnico

e financeiro, principalmente nos estágios iniciais

de conversão.

O início da produção com métodos

orgânicos foi determinado por vários fatores. Entre

eles estão a decisão dos próprios agricultores

em função de problemas com o uso de agrotóxicos,

o apoio de ONGs que já trabalhavam

com agricultura ecológica e passaram a estimular

a produção de algodão nas mesmas bases, ou

ainda a implementação de projetos-piloto em

países menos desenvolvidos por agências de

cooperação de governos como os da Alemanha e

Suécia (SOUZA, 1997).

O algodão para ser considerado orgânico

precisa ser certificado. A certificação é um

instrumento de garantia de que o algodão orgânico

foi produzido dentro de um conjunto mínimo

de normas. Para manter a condição de orgânico

até o produto final é necessário que toda a cadeia

Insumos Produção

rural

Beneficiamento

Fiação

Tecelagem

Malharia

Acabamento

tinturaria/

estamparia

Confecção Distribuição

Legenda

Grande problema ambiental

Orgânico Colorido Transgênico

Produção de algodão

Informações Econômicas, SP, v.30, n.6, jun. 2000.

93

Produção de Algodão Orgânico Colorido: possibilidades e limitações

de produção seja inspecionada e certificada como

orgânica. As condições de cultivo devem

obedecer práticas orgânicas, assim como as

etapas subseqüentes, como o beneficiamento,

fiação e tecelagem, também devem ser certificadas

como orgânicas.

A ausência dos chamados "insumos

modernos" nos sistemas orgânicos de produção

faz com que se veicule a idéia preconceituosa de

que são sistemas "atrasados", ou mesmo um "retorno

ao passado". Ao contrário, a produção orgânica

moderna de algodão requer um manejo

muito mais intensivo e inovador do que a forma

convencional de se produzir a fibra (THE ICAC,

1998).

A fertilização do solo no cultivo orgânico

provém de adubação verde com leguminosas

para aumentar os níveis de matéria orgânica e de

fixação de nitrogênio, de composto de origem

animal e outros fertilizantes e micronutrientes

orgânicos aprovados pela agência certificadora.

O controle de ervas invasoras é feito

através de um plano de rotação de culturas, ou

ainda por meios manuais e mecânicos, uma vez

que o uso de herbicidas é proibido pelos padrões

orgânicos de produção. Comparadas ao cultivo

convencional, as despesas com essa operação

são mais altas, ao contrário do que ocorre com o

uso de fertilizantes e inseticidas.

O manejo de pragas e doenças é feito

através de práticas de estímulo ao controle biológico.

Os métodos permitidos pelas agências certificadoras

constam, basicamente, de monitoramento,

pulverizações com produtos de origem

vegetal ou alguns óleos e sabões, uso de técnicas

de confusão como armadilhas de feromônios

(hormônios sexuais de insetos), catação manual

e uso de organismos vivos, como

Bacillus thuringiensis,
baculovirus ou o lançamento de insetos

benéficos, predadores e parasitas.

A escolha do lugar é outro fator importante

para o sucesso do cultivo orgânico de algodão,

seja para prover condições desfavoráveis

para a explosão populacional de pragas, seja para

fornecer condições naturais favoráveis para

dissecar as plantas, no caso de colheita mecânica.

Isso ocorre por meio de controle de irrigação

em algumas áreas de algodão orgânico na Califórnia,

e por meio de uma pequena geada que

ocorre em determinadas regiões do Texas.

Existem diversos sistemas de produção

de algodão orgânico, desde os mais tecnificados,

como os observados nos Estados Unidos, até os

menos tecnificados, como os que ocorrem no

Brasil (SOUZA, 1998).

Na Califórnia, as propriedades típicas

que cultivam algodão orgânico no San Joaquin

Valley são grandes, com área total que pode

alcançar cerca de 1.000 hectares. Os produtores

converteram tanto parte da área como toda a

propriedade ao cultivo orgânico. Devido à rotação

de culturas, a área dedicada ao algodão é bem

menor que a área total, variando entre 4 e 320

hectares a cada ano. Como a propriedade típica

consiste de vários campos, o algodão será cultivado

em alguma parcela, ocupando uma vez a

cada 2 ou três anos a mesma área. As culturas

empregadas para rotação com o algodão são:

alfafa, feijões, leguminosas para adubo verde,

tomate para indústria, aveia e trigo. Todas as

práticas agrícolas e insumos empregados precisam

ser aprovados pelas agências certificadoras

(KLONSKY et al., 1995).

A densidade de plantio é menor no

cultivo orgânico, para reduzir a competição pela

luz, água e nutrientes e para promover um maior

desenvolvimento dos capulhos. As práticas de

manejo de pragas e doenças variam conforme a

pressão de insetos e ácaros, que depende da

localização da área, das condições climáticas, da

incidência no ano anterior e das culturas e

habitats
mais próximos. As sementes são da variedade

Acala, sem tratamento com fungicidas, aprovadas

pela legislação estadual e pelas agências

certificadoras. A produtividade observada na Califórnia

é menor no cultivo orgânico, variando de

720kg/ha a 1.120kg/ha de algodão em pluma (3 a

5 fardos de 500 libras por hectare) e 1.200 a

1.600kg de caroço de algodão por hectare

(KLONSKY et al., 1995).

No Brasil, a produção de algodão orgânico

está a cargo de pequenos produtores de

Tauá, no Estado do Ceará, que empregam, basicamente,

mão-de-obra familiar, em cultivo consorciado

com milho, feijão, gergelim e guandu.

No início do cultivo da fibra em bases agroecológicas,

no começo dos anos noventas, predominava

o algodão arbóreo (

Gossypium hirsutum
var. maria galante

), cultura tradicional na região.
Ao longo dessa década, diante da baixa produtividade

obtida, o arbóreo foi sendo gradativamente

substituído, por solicitação dos agricultores,

pelo algodão herbáceo (

Gossypium hirsutum). As
tecnologias empregadas nos sistemas de produ

Informações
Econômicas, SP, v.30, n.6, jun. 2000.

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Souza, Maria Célia M. de

ção, em 1997, incluíram o plantio do algodão nas

primeiras chuvas, em consórcio com culturas

anuais e leguminosas arbóreas/arbustivas como

leucena e guandu (

Cajanus cajan), com o uso de
técnicas de conservação de solo e de cultivares

precoces, como CNPA 5M ou Precoce 1.

A fertilização foi feita com esterco de

gado e adubação foliar com solução à base de

esterco fresco fermentado, misturado com outros

produtos naturais obtidos no próprio local. Foram

instaladas armadilhas com feromônio, para monitoramento

e captura de adultos do bicudo e realizada

a catação de botões florais que caíram no

solo, também para controle desse inseto. Além

disso, usaram-se técnicas de controle biológico

disponíveis, como

Trichogramma sp, Beauveria bassiana e Bacillus thuringiensis. O gado foi introduzido nas lavouras após a colheita, seguidode poda das plantas de algodão arbóreo ou de sua erradicação, no caso do herbáceo. As planta de leucena e/ou guandu foram podadas durant a estação chuvosa, para uso como cobertura morta (ESPLAR, 1997).
Os rendimentos obtidos, segundo LIMA;

OLIVEIRA; ARAÚJO (1997), variam muito

nas áreas experimentais conforme a distribuição

de chuvas. A precipitação média no estado foi de

511mm, com uma produção média de 1.480kg/ha

de algodão em caroço. Cultivado em sistema de

monocultura com um

stand de 50.000 pés/ha, o
algodão convencional apresentou uma produção

de 29g/planta. As áreas experimentais de algodão

orgânico apresentaram um número menor de

plantas/ha, em função dos consórcios acima

mencionados. Na área 1 foram plantadas 19.800

plantas/ha. A precipitação foi de 393mm, o que

representa 23% abaixo da média do estado e a

produtividade foi 19% inferior, com uma produção

de 24g/planta. Na área 2, que teve uma precipitação

de 630mm, ou 23% acima da média, a produtividade

foi 153% superior à média estadual.

Essa última área mostrou um

stand menor, de
18.200 plantas/ha, e uma produtividade por pé

mais elevada: 75g/planta.

Ainda não há consenso sobre a viabilidade

econômica do cultivo do algodão orgânico.

De acordo com UNCTAD (1996), as informações

disponíveis não são suficientes para determinar

tendências de longo prazo. Estima-se que nos

países onde já se cultiva o algodão orgânico, os

custos de produção sejam 10% a 15% superiores

aos do algodão convencional e com rendimento

15% inferior.

Apesar da escassez de estatísticas oficiais

sobre o cultivo orgânico de algodão, a tabela

1 apresenta uma estimativa da produção mundial.

3.2 - O Algodão Colorido

O algodão com fibras naturalmente coloridas

já existe há cerca de 5.000 anos, nativo de

uma ampla dispersão geográfica que engloba o

Egito, Paquistão, China e Américas Central, do

Norte e do Sul (VREELAND JUNIOR, 1993).

É encontrado em duas cores, verde e

marrom, em várias tonalidades. Estas variedades

foram sendo mantidas ao longo dos anos por

comunidades tradicionais do México, Guatemala

e Peru. Cerca de 15 mil índios e pequenos agricultores

peruanos, que ainda cultivam rotineiramente

variedades nativas de algodão colorido e

foram os responsáveis por sua manutenção ao

longo dos anos, representam o maior grupo de

produtores de fibras e fios naturalmente coloridos

no mundo (BIO-PIRATERIA, 1999).

Variedades naturalmente coloridas foram

mantidas em casas de vegetação por pesquisadores

interessados em determinadas características

genéticas, como resistência a pragas e

doenças, sem contudo incorporar melhorias na

qualidade da fibra. A partir dos anos oitentas, visando

atender a um nicho de mercado, algumas

dessas variedades foram recuperadas e patenteadas

por empresas norte-americanas e posteriormente

adaptadas para cultivo em sistemas de

produção orgânicos. Assim, características desejáveis

da fibra como comprimento, uniformidade,

finura, resistência e manutenção da cor, entre

outras, passaram a ser objeto de melhoramento

genético nos últimos dez anos, inclusive no Brasil

pelo Centro Nacional de Pesquisa de Algodão da

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

(CNPA/EMBRAPA) (CHAUDRY, 1994; SANTANA

et al., 1997).

A principal vantagem do emprego da

fibra colorida é a eliminação do uso de corantes

na fase de acabamento do tecido, o que reduz o

impacto ambiental do processo de tingimento,

sendo apropriado para produção de tecidos ecológicos

e orgânicos. Outra vantagem da fibra

naturalmente colorida é o prêmio de até 100%

que pode ser obtido pelos produtores, em relação

à fibra branca convencional.

Mas o algodão colorido também apre

Informações
Econômicas, SP, v.30, n.6, jun. 2000.

95

Produção de Algodão Orgânico Colorido: possibilidades e limitações

TABELA 1 - Estimativa da Produção Mundial de Algodão Orgânico, 1992 a 1997

(em toneladas)

País 1992 1993 1994 1995 1996 1997

Argentina - 2 120 126 132 70

Austrália 479 500 750 400 500 400

Benin - - - - - 5

Brasil - 2 8 - 1 5

Egito 38 141 598 600 650 630

Estados Unidos 2.155 4.274 5.365 7.425 3.396 2.852

Grécia - - 450 500 475 400

Índia 206 268 398 929 900 930

Israel - - - 100 100 50

Moçambique - - - 90 90 50

Nicarágua - - 16 20 20 20

Paraguai 100 75 50 50 50

Peru 400 700 924 1.516 1.500 650

Senegal - - - 2 30 20

Turquia 130 198 610 720 750 800

Tanzânia - - 33 100 100 200

Uganda - 16 150 250 300 800

Zâmbia - - - 35 30 30

Zimbábue - - - - - 5

Total 3.408 6.201 9.497 12.863 9.024 7.967

Fonte: Adaptado de ORGANIC (1999).

senta desvantagens. Pode contaminar algodões

brancos durante o cultivo e o beneficiamento

deve ser realizado separadamente. Sua produtividade

é cerca de 10% menor do que as variedades

brancas comerciais e a pluma colorida nem

sempre alcança as exigências da fiação industrial.

Além disso, são poucas as opções de cores

e há problemas de comercialização, dada a grande

incerteza que ainda existe nesse mercado

(THE ICAC, 1993).

Se as estimativas de produção de algodão

orgânico são escassas, as informações

sobre algodão orgânico colorido são ainda mais

difíceis de serem obtidas. A área total cultivada

com algodão orgânico colorido nos Estados Unidos

foi estimada em 2.500 a 2.800ha em 1994

(CHAUDRY, 1994). Há registros de apoio governamental

para produção em Israel, na Índia e na

Austrália, além da produção por comunidades

tradicionais da Guatemala, México e Peru.

No Peru cultiva-se cerca de 3.000ha

por ano. As 3.500 toneladas de algodão colorido

atendem basicamente ao mercado local, com a

produção de camisetas para uniformes escolares

distribuídos pelo governo (VREELAND JUNIOR,

1999). O cultivo do algodão colorido por comunidades

tradicionais do Peru com potencial para

ser certificado como orgânico, representa uma

alternativa ao cultivo de coca, além de apresentar

fortes elementos de

fair trade, ou comércio justo.
Parte dessa produção vem sendo organizada por

empresas como a Pakucho, que recebe a certificação

orgânica da agência holandesa SKAL, e a

Verner Frang, cuja produção é certificada pela

sueca KRAV.

As principais empresas norte-americanas

que incentivam o cultivo da fibra orgânica e

colorida nos Estados Unidos são a Natural Cotton

Colours, Inc., que utiliza a marca registrada Fox

Fibre, e foi responsável pelo cultivo de 2.000 a

2.500ha em 1994, e a BC Cotton, Inc., com cerca

de 400ha cultivados nesse mesmo ano (CHAUDRY,

1994).

No Brasil, a iniciativa de produzir tecidos

orgânicos com algodão orgânico e colorido

foi da Baobá, uma empresa de tecidos artesanais

de São Paulo, que já trabalhava com algodão

orgânico. Os tecidos orgânicos da empresa são

certificados pelo Instituto Biodinâmico de Desenvolvimento

Rural (IBD), de Botucatu (SP), con

Informações
Econômicas, SP, v.30, n.6, jun. 2000.

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Souza, Maria Célia M. de

forme os padrões orgânicos para têxteis estabelecidos

pela IFOAM

3. Diante da falta de fibra orgânica
colorida certificada no País, foi necessário

recorrer à importação de matéria-prima da empresa

peruana Pakucho.

4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

As dificuldades para a expansão da

produção de algodão orgânico ainda são muitas.

Falta ainda pesquisa sobre alternativas técnicas

3

A International Federation of Organic Agriculture Movements
(IFOAM) é a organização mundial dos movimentos

de agricultura orgânica, com 770 membros de organizações

e instituições de 107 países. É responsável pela

harmonização dos padrões orgânicos de produção em

nível mundial.

para o cultivo orgânico da fibra que possam ser

disseminadas para novas áreas de produção.

Programas coordenados de pesquisa participativa

poderiam ser desenvolvidos envolvendo a indústria,

organizações governamentais, institutos

de pesquisa, extensionistas e produtores. Devese

fortalecer o processo de certificação, pela busca

de alternativas técnicas também no processamento

e pela determinação de padrões de rotulagem,

de modo a ampliar a consciência dos

consumidores. Além disso, faltam informações

sistematizadas sobre área, produção e produtividade.

A necessidade de suporte técnico e financeiro

de organizações governamentais e não-governamentais

também é fator fundamental para

ampliar a produção e os mercados para o algodão

orgânico e colorido. Cabe ressaltar a importância

do cultivo dessas fibras para inclusão de

pequenos agricultores e comunidades tradicionais

num mercado diferenciado: o de têxteis orgânicos.

LITERATURA CITADA

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http://www.rafi.org/espanol/e19935.html [capturado em 31 mar. 1999].
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ORGANIC cotton: from field to final product. London: Intermediate
Technology Publications Ltd, 1999. p.47-49.

PRODUÇÃO DE ALGODÃO ORGÂNICO COLORIDO:

possibilidades e limitações

RESUMO:

O algodão orgânico e o algodão colorido são geralmente cultivados por pequenos
agricultores e comunidades tradicionais. Representam alternativas para a redução do impacto ambiental

da produção de têxteis, sendo utilizados como matéria-prima para atender ao nicho de mercado de têxteis

ecológicos e orgânicos. O estudo mostra as etapas de maior impacto ambiental para produção de

têxteis, assim como a organização e principais limitações para a produção e processamento de algodão

orgânico e colorido.

Palavras-chave:

algodão orgânico, algodão colorido, têxteis ecológicos, têxteis orgânicos, pequenos
agricultores.

Informações Econômicas, SP, v.30, n.6, jun. 2000.

98

Souza, Maria Célia M. de

COLORED ORGANIC COTTON: possibilities and limitations

ABSTRACT

: Organic cotton and colored cotton are mostly cultivated by small growers
and traditional communities. They represent alternatives to reduce environmental impacts of textiles

production, being used as raw-material to supply the market niche of ecological and organic textiles.

This study shows the steps of textiles production with the highest environmental impact, as well as

the organization and main restrictions on organic and colored cotton production and processing.

Key-words

: organic cotton, colored cotton, ecological textiles, organic textiles, small farmers.


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